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(1501) † Como agora não consigo dormir à noite, porque o sofrimento não me permite, visito [espiritualmente] todas as igrejas e capelas e, ao menos por um breve momento, adoro o Santíssimo Sacramento. Quando volto à minha capela[532], rezo por certos sacerdotes que divulgam e glorificam a misericórdia de Deus. Rezo igualmente na intenção do Santo Padre e para pedir misericórdia para os pecadores. - Assim passo as minhas noites.
(1502) (107) 20.01.[1938]. Nunca sou subserviente[533]. Não suporto adulações, já que a humildade é tão somente a verdade. Na autêntica humildade não existe servilismo. Embora me considere a menor em todo o convento, alegro-me com a dignidade de esposa de Jesus... Não importa se, algumas vezes, me encontro com a opinião de que sou orgulhosa, pois sei que o julgamento humano não distingue os motivos do nosso agir.
(1503) No início da minha vida religiosa, logo depois do noviciado, comecei a exercitar-me de modo especial na humildade e, portanto, não me eram suficientes apenas as humilhações que Deus me enviava, mas eu mesma as procurava. No excessivo zelo, às vezes eu me apresentava às superioras diferente de como era na realidade, e eu nem tinha ideia de tais misérias. Contudo, em breve Jesus me fez conhecer que a humildade é apenas a verdade. A partir desse momento mudei o meu ponto de vista, seguindo fielmente a luz de Cristo. Conheci que, quando a alma está com Cristo, Ele não permite que ela erre.
(1504) (108) † Senhor, Vós sabeis que desde a minha juventude sempre busquei a Vossa vontade e, tendo-a conhecido, procurei cumpri-La. O meu coração havia se habituado às inspirações do Espírito Santo, a quem me mantenho fiel. Na maior algazarra eu ouvia a voz de Deus; estou sempre consciente do que se passa no interior da minha [alma][534]...
(1505) Procuro a santidade, porque assim serei útil à Igreja. Faço contínuos esforços na prática da virtude, tentando imitar fielmente a Jesus, e essa série de silenciosas virtudes diárias, ocultas, quase imperceptíveis, mas cumpridas com grande amor, eu a deposito no tesouro da Igreja de Deus, para o proveito comum das almas. Sinto interiormente como se eu fosse responsável por todas as almas. Sinto muito bem que não vivo só para mim, mas para toda a Igreja...
(1506) † Ó Deus inconcebível, o meu coração derrete-se de alegria por me terdes dado mergulhar nos mistérios (109) da Vossa misericórdia. Tudo começa com a Vossa misericórdia e termina com a Vossa misericórdia... Toda graça decorre da misericórdia, e a última hora é cheia de misericórdia para conosco.
(1507) Que ninguém duvide da bondade de Deus, ainda que os seus pecados sejam negros como a noite, a misericórdia de Deus é mais forte do que a nossa miséria. No entanto, é preciso que o pecador abra ao menos um pouco a porta do seu coração aos raios da graça, da misericórdia de Deus, e o resto Ele completará. Mas infeliz é a alma que, mesmo na hora derradeira, tenha fechado a porta para a misericórdia de Deus. Foram essas almas que fizeram Jesus mergulhar numa tristeza mortal no Jardim das Oliveiras. Afinal, do Seu compassivo Coração brotou a misericórdia divina.
(1508) 21.01.[1938]. Jesus, seria realmente terrível sofrer se não existísseis. Mas, justamente Vós, Jesus, pregado na Cruz, me dais força e sempre estais junto da alma sofredora. As criaturas abandonam a pessoa que sofre, mas Vós, Senhor, sois fiel...
(1509) (110) Acontece, muitas vezes, na doença aquilo que aconteceu com Jó no Antigo Testamento. Quando se anda e se trabalha, aí tudo é bom e bonito. Mas, quando Deus envia a doença, o número dos amigos começa a diminuir. Contudo, existem alguns. Eles se interessam pelo nosso sofrimento e assim por diante. Porém, se Deus envia uma doença longa, aos poucos, começam a nos abandonar também esses amigos fiéis. Visitam-nos com menos frequência, e suas visitas, muitas vezes, causam-nos ainda mais pesar. Em vez de nos consolarem, censuram-nos por algumas coisas, o que nos é ainda motivo de maior sofrimento. E é assim que a alma, como a de Jó, fica sozinha, embora felizmente não desolada, porque Jesus-Hóstia está com ela.
Quando experimentei os sofrimentos anteriormente mencionados e passei a noite toda em amargura, de manhã, quando o padre capelão me trouxe a santa Comunhão, tive que me dominar com um esforço de vontade para não gritar em voz alta: "Bem-vindo, meu verdadeiro e único Amigo". A santa Comunhão me dá forças para os sofrimentos e a luta.
Quero dizer mais uma coisa que experimentei. Quando Deus não dá (111) nem a morte nem a saúde, e isso dura anos - os que nos cercam acostumam-se com isso e acham que nós não estamos doentes. Então tem início um contínuo martírio silencioso. Somente Deus sabe quantos sacrifícios essa alma oferece.
(1510) Quando, à noite, eu me sentia tão mal que não sabia como chegaria até a cela, encontrei a irmã assistente[535] que estava dizendo a uma das irmãs diretoras para ir à portaria com um recado. Apenas me viu, disse-lhe: "A irmã não precisa mais ir; vai a irmã Faustina, porque está chovendo forte". Respondi: "Tudo bem". Fui e cumpri o que me foi pedido, mas somente Deus sabe o que me custou. É um exemplo entre muitos. Parece, às vezes, que uma irmã do segundo coro[536] é de pedra, mas também ela é uma criatura humana, tem coração e sentimentos...
Nessas ocasiões, é o próprio Deus que nos vem em auxílio, porque, de outra forma, a alma não seria capaz de carregar tantas cruzes, sobre as quais ainda nem escrevi e, neste momento, não tenho intenção de escrever, mas quando sentir inspiração, escreverei...
(1512) (112) Hoje, durante a santa Missa, vi Nosso Senhor em sofrimentos, como que agonizando na Cruz. - Ele me disse: Minha filha, medita com frequência sobre os sofrimentos que por ti suportei, e nada do que sofres por Mim te parecerá grande. Tu Me agradas mais quando meditas sobre a Minha dolorosa Paixão. Une os teus pequenos sofrimentos com a Minha dolorosa Paixão, para que tenham valor infinito diante de Minha majestade.
(1513) † Hoje Jesus me disse: Muitas vezes Me chamas de teu Mestre. Isso agrada ao Meu Coração, mas não te esqueças, discípula Minha, de que ás discípula do Mestre Crucificado: essa única palavra te seja suficiente. Tu sabes o que se encerra na Cruz.
Em breve continuação do Caderno V