299 (130) † Segredo da alma. Vilnius, 1934
Uma vez, quando o confessor mandou que eu perguntasse a Jesus o que significavam aqueles dois raios na Imagem [181] - respondi-lhe: "Muito bem, perguntarei ao Senhor".
Durante a oração ouvi estas palavras interiormente: Os dois raios representam o Sangue e a Água - o raio pálido significa a Água que justifica as almas, o raio vermelho significa o Sangue que é a vida das almas...
Ambos os raios jorraram das entranhas da Minha misericórdia, quando, na cruz, o Meu Coração agonizante foi aberto pela lança [182]. Esses raios defendem as almas da ira do Meu Pai. Feliz aquele que viver à sua sombra, porque não será atingido pelo braço da justiça de Deus. Desejo que o primeiro domingo depois da Páscoa seja a Festa da Misericórdia.
300 † Pede ao Meu servo fiel [183] que nesse dia fale ao mundo inteiro desta Minha grande misericórdia, que aquele que nesse dia se aproximar da Fonte da Vida alcançará o perdão total das culpas e das penas.
† A humanidade não encontrará paz enquanto não se voltar com confiança para a Minha misericórdia.
† Oh, como Me fere a incredulidade da alma. Essa alma confessa que sou Santo e Justo e não crê que sou Misericórdia, não acredita na Minha bondade. Até os demônios respeitam a Minha justiça, mas não creem na Minha bondade.
Alegra-se o Meu Coração com esse título da Misericórdia.
301Diz que a misericórdia é o maior atributo de Deus. Todas as obras das Minhas mãos são coroadas pela misericórdia.
302 (131) † Ó Amor eterno, desejo que Vos conheçam todas as almas que criastes. Gostaria de me tornar sacerdote, pois, então, falaria sem cessar da Vossa misericórdia às almas pecadoras, mergulhadas no desespero. Desejaria ser um missionário e levar a luz da fé aos países selvagens, para Vos dar a conhecer às almas e, imolando-me inteiramente por elas, morrer como mártir, como Vós morrestes por mim e por elas. Ó Jesus, sei muito bem que posso ser sacerdote, missionário, pregador, mesmo mártir, pelo total despojamento e abnegação de mim mesma por amor a Vós, Jesus, e às almas imortais.
303 Um grande amor consegue transformar coisas pequenas em coisas grandes e só ele dá valor às nossas ações; quanto mais puro se tornar o nosso amor, tanto menos o fogo dos sofrimentos terá o que purificar em nós, e o sofrimento deixará de ser sofrimento para nós. - Tornar-se-á para nós um prazer. Pela graça de Deus agora recebi uma tal disposição de coração que nunca sou tão feliz como quando sofro por Jesus, a Quem amo com cada pulsar do coração.
Um dia, ao passar por um grande sofrimento, deixei o meu trabalho e fui ter com Jesus, pedindo que me concedesse a Sua força. Depois de uma breve oração, voltei ao trabalho cheia de entusiasmo e alegria. Então, disse-me uma das irmãs: "Decerto, a irmã tem hoje muitos consolos, porque está tão radiante. Deus certamente não está dando à irmã nenhum sofrimento - mas apenas consolo". - Respondi: "A irmã está muito enganada, porque justamente quando sofro muito, também a minha alegria é maior e quando sofro menos, também a minha alegria é menor". Mas essa alma me fez entender que não me compreendia nesse particular. Procurava explicar-lhe que, quando sofremos muito, temos uma grande oportunidade de demonstrar a Deus que O amamos, enquanto que quando sofremos pouco, então temos pouca possibilidade para demonstrar a Deus o nosso amor, e quando não sofremos nada - então o nosso amor não é grande nem puro. Com a graça de Deus podemos chegar [ao ponto] de o nosso sofrimento transformar-se em deleite, porque o amor sabe fazer tais coisas nas almas puras.
304 (132) † Meu Jesus, minha única esperança, agradeço-Vos por esse livro que abristes diante dos olhos da minha alma. Esse livro é a Vossa Paixão, que assumistes porque me amastes. Aprendi nele como amar a Deus e as almas. Nele estão contidos para nós tesouros inesgotáveis. Ó Jesus, quão poucas almas Vos compreendem no Vosso martírio de amor! Oh, como é grande o fogo do amor mais puro que arde em Vosso Sacratíssimo Coração. Feliz a alma que compreendeu o amor do Coração de Jesus.
305 O meu maior desejo é que as almas reconheçam que Vós sois a felicidade eterna delas, que creiam na Vossa bondade e glorifiquem para sempre a Vossa misericórdia.
306 Pedi a Deus que me concedesse a graça de robustecer e fortalecer a minha natureza contra as influências que, muitas vezes, querem me desviar do espírito da regra e das pequenas normas - porque são como pequenas traças que querem destruir em nós a vida interior e com certeza a destruirão, se a alma estiver consciente dessas pequenas transgressões e, apesar disso, as desprezar como coisas pequenas. Eu não vejo nada de pequeno na vida religiosa e não importa se algumas vezes sou vítima de dissabores e insinuações maliciosas, contanto que o meu espírito esteja em harmonia com o espírito das regras, dos votos e das normas religiosas.
Ó meu Jesus, delícia do meu coração, Vós conheceis os meus desejos. Gostaria de ocultar-me aos olhos dos homens de tal forma que, vivendo, fosse como se não vivesse. Quero ser pura como a flor do campo, quero que o meu amor esteja sempre voltado para Vós, como uma flor que sempre se vira para o sol. Desejo que o perfume e o frescor da flor do meu coração se conservem sempre e exclusivamente para Vós. Quero viver sob o Vosso olhar divino, porque só Vós me bastais. Quando estou Convosco, ó Jesus, não tenho medo de coisa alguma, porque nada me pode prejudicar.
307 (133) † 1934. Em determinado momento, durante a Quaresma, vi por sobre a nossa capela e casa uma grande claridade e também uma grande escuridão. Observei a luta dessas duas potências...
308 1934. Quinta-Feira Santa. Jesus me disse: Desejo que faças o sacrifício de ti mesma pelos pecadores, especialmente por aquelas almas que perderam a esperança na misericórdia de Deus.
309 Deus e as almas - Ato de oferecimento
Diante do céu e da terra, diante de todos os coros dos anjos, diante da Santíssima Virgem Maria, diante de todas as potestades celestes, declaro a Deus Uno e Trino que hoje, em união com Jesus Cristo, Salvador das almas, faço espontaneamente o oferecimento de mim mesma pela conversão dos pecadores, especialmente por aquelas almas que perderam a esperança na misericórdia de Deus. Esse sacrifício consiste em eu aceitar, com total submissão à vontade de Deus, todos os sofrimentos, receios e temores que oprimem os pecadores, entregando-lhes em troca todos os consolos que tenha na alma, provenientes da convivência com Deus. Numa palavra, ofereço por eles tudo: santas Missas, santas Comunhões, penitências, mortificações e orações. Não tenho medo dos golpes - dos assaltos desferidos pela justiça de Deus - porque estou unida a Jesus. Ó meu Deus, desejo, dessa maneira, desagravar-Vos por aquelas almas que não confiam na Vossa bondade. Confio, contra toda [esperança], no oceano da Vossa misericórdia. Meu Senhor e meu Deus, meu quinhão - minha herança pelos séculos - não baseio este ato de oferecimento nas minhas próprias forças, mas na força que decorre dos méritos de Jesus Cristo. Repetirei diariamente este ato de oferecimento com a oração seguinte, que Vós mesmo me ensinastes, Jesus:
"Ó Sangue e Água que jorrastes do Coração de Jesus como fonte de misericórdia para nós, eu confio em Vós!".
Irmã Maria Faustina do Santíssimo Sacramento.
Quinta-Feira Santa, durante a santa Missa, 29.03.1934.
310 (134) - Faço-te participante da Redenção do gênero humano. És o alívio na hora da Minha agonia.
311 Quando recebi permissão do meu confessor [184] para fazer esse ato de oferecimento, entendi logo que esse ato foi agradável a Deus, porque logo comecei a sentir os seus efeitos. Imediatamente a minha alma tornou-se como um rochedo: árida, cheia de tormentos e inquietações. Diversas blasfêmias e maldições se amontoavam nos meus ouvidos. A desconfiança e o desespero se alojaram no meu coração. É essa a condição dos pobres, que assumo sobre mim. A princípio assustei-me muito com essas coisas horríveis, mas na primeira confissão fui tranquilizada.
312 † Quando saí uma vez de casa para me confessar, encontrei o meu confessor [185] celebrando a santa Missa. Um pouco depois, vi o Menino Jesus no altar, que carinhosamente e com alegria estendia as mãozinhas para ele. Mas o sacerdote logo pegou aquela linda Criança em suas mãos, partiu-a e a comeu viva. A princípio senti aversão por esse sacerdote, por ter feito isso a Jesus, mas logo fiquei esclarecida sobre o assunto e reconheci que esse sacerdote era muito agradável a Deus.
313 † Em determinado momento, quando fui à casa daquele pintor [186] que está pintando a Imagem e vi que ela não era tão bela como é Jesus - fiquei muito triste com isso, mas escondi essa mágoa no fundo do meu coração. Quando saímos da casa do pintor, a madre superiora [187] ficou na cidade para resolver diversos assuntos, e eu voltei para casa sozinha. Imediatamente me dirigi à capela e chorei muito. Disse ao Senhor: "Quem Vos pintará tão belo como sois?" - Então ouvi estas palavras: O valor da Imagem não está na beleza da tinta nem na habilidade do pintor, mas na Minha graça.
314 † Em determinado momento, quando, depois do meio-dia fui ao jardim, o anjo da guarda me disse: "Reze pelos agonizantes". Logo comecei a rezar o Terço pelos agonizantes junto com as jardineiras. Terminado o Terço, começamos a rezar diversas orações pelos agonizantes. No fim destas, as educandas começaram a conversar alegremente entre si. (135) Apesar da algazarra delas, ouvi na alma estas palavras: "Reze por mim!". Como não podia compreender bem essas palavras, afastei-me alguns passos das educandas, refletindo sobre quem podia ser a pessoa que me pedia que rezasse. Então, ouvi estas palavras: "Sou a irmã..." [188] - Essa irmã estava em Varsóvia e eu, naquele momento, em Vilnius. - "Reze por mim até que lhe diga quando deve parar. Estou agonizando". Imediatamente, comecei a rezar por ela ao Coração agonizante de Jesus e, como ela não me dava descanso, rezei assim das três às cinco horas. Às cinco horas ouvi estas palavras: "Obrigada". Compreendi que já havia morrido. Todavia, no dia seguinte, durante a santa Missa, rezei com fervor por sua alma. Depois do meio-dia veio um bilhete avisando que a irmã... havia morrido em tal e tal hora. - Compreendi que era a hora em que me tinha dito: "Reze por mim!".
315 † Mãe de Deus, cuja alma estava mergulhada num mar de amargura, olhai para a vossa filha e ensinai-a a sofrer e a amar sofrendo. Fortalecei minha alma, que a dor não a quebrante. Ó Mãe da Graça - ensinai-me a viver com Deus!
316 Em determinado momento, veio visitar-me a Mãe de Deus. Estava triste, tinha os olhos voltados para baixo. Fez-me entender que tinha alguma coisa para me dizer, mas parecia que não queria falar disso. Quando o percebi, comecei a pedir à Mãe de Deus que me dissesse e que olhasse para mim. Por um instante, Maria voltou o olhar para mim com um sorriso meigo e disse: Terás alguns sofrimentos por motivo de uma doença e dos médicos; também sofrerás muito por causa da Imagem, mas de nada tenhas medo. No dia seguinte fiquei doente e sofri muito, como me tinha dito a Mãe de Deus, mas a minha alma estava preparada para os sofrimentos. O sofrimento é o companheiro constante da minha vida.
317 Ó meu Deus, minha única esperança, em Vós pus toda a confiança e sei que não serei confundida.
318 (136) As vezes, depois da santa Comunhão, sinto a presença de Deus de modo particular, sensível. Sinto que Deus está no meu coração. E o fato de O sentir na alma em nada me impede o cumprimento das minhas obrigações; mesmo quando estou resolvendo os assuntos mais importantes, que exigem atenção, não perco a presença de Deus na alma e estou intimamente unida a Ele. Com Ele vou ao trabalho, com Ele vou ao recreio, com Ele sofro, com Ele me alegro, vivo Nele, e Ele em mim. Nunca estou sozinha porque Ele é meu companheiro constante; sou consciente da Sua presença em cada momento. A nossa familiaridade é estreita, pela união do sangue e da vida.
319 09.08.1934. Adoração noturna nas quintas-feiras [189]. Fiz a adoração das onze à meia-noite, oferecendo-a pela conversão dos pecadores endurecidos, especialmente por aqueles que perderam a esperança na misericórdia de Deus. Refletia quanto Deus sofreu e que grande amor nos demonstrou, e nós não cremos que Ele nos ame tanto. Ó Jesus, quem o compreenderá? Que grande dor para o nosso Salvador! E com que nos convencerá do Seu amor, se a própria morte não o conseguiu? Convoquei todo o céu para que, juntamente comigo, desagravasse o Senhor por essa ingratidão de algumas almas.
320 Jesus deu-me a conhecer como Lhe é agradável a oração reparadora, dizendo-me: A oração da alma humilde e amante desarma a ira de Meu Pai e alcança um mar de bençãos. Terminada a adoração, na metade do caminho para a cela, fui cercada por uma multidão de cães negros e grandes, que pulavam e uivavam, querendo despedaçar-me. Percebi que não se tratava de cães, mas de demônios. Um deles disse com raiva: "Por nos teres arrebatado, esta noite, tantas almas, te faremos em pedaços". - Respondi: "Se essa for a vontade de Deus miseriocordiosíssimo, podem despedaçar-me, pois eu o mereci com justiça, porque sou a mais miserável dos pecadores, e Deus, sempre santo, justo e infinitamente misericordioso". - A essas palavras os demônios responderam todos juntos: "Fujamos, porque não está sozinha, mas com ela está o Onipotente!" - E desapareceram do meu caminho como o pó, como o ruído da estrada. E eu, tranquila, terminando o Te Deum, ia para a cela refletindo sobre a infinita e incomensurável misericórdia de Deus.
(137) 12.08.1934.
321 Súbita fraqueza - sofrimento letal. Não era a morte, ou seja, a passagem para a vida verdadeira, mas como que um antessabor dos seus sofrimentos. É terrível a morte, embora nos dê a vida eterna. De repente, senti-me mal: com dificuldade em respirar, minha vista escureceu e experimentei o torpor nos membros - é terrível essa sufocação. Um momento dessa sufocação é sobremaneira longo... Também apoderou-se de mim um estranho temor, apesar da confiança. Desejava receber os últimos Santos Sacramentos, mas, embora quisesse me confessar, era-me extremamente difícil. A gente não sabe o que diz, começa uma coisa, antes de terminar outra. - Oh, que Deus livre toda alma do adiamento da confissão para a última hora. Conheci a grande força que desce das palavras do sacerdotes sobre a alma do doente. Quando perguntei ao diretor espiritual se estava pronta para me apresentar diante de Deus e se podia ficar tranquila, recebi a resposta: "Podes ficar inteiramente tranquila, não somente agora, mas depois de cada confissão semanal". - Grande é a graça de Deus que acompanha essas palavras do sacerdote. A alma sente força e coragem para a luta.
322 Ó minha congregação, minha mãe - como é doce viver em ti, mas melhor ainda morrer!
323 Depois de receber os últimos Santos Sacramentos, fiquei completamente boa. Fiquei sozinha; isso durou cerca de meia hora, e novamente repetiu-se o ataque, mas já não tão forte, mercê dos cuidados médicos.
Eu unia os meus sofrimentos com os sofrimentos de Jesus e os oferecia por mim e pela conversão das almas que não confiam na bondade de Deus. De repente, a minha cela encheu-se de vultos negros, cheios de raiva e ódio contra mim. Um deles disse: "Maldita és tu e Aquele que está em ti, porque já estás começando a nos atormentar mesmo no inferno!"- Pronunciei as palavras: "E o Verbo se fez carne e habitou entre nós" - e, imediatamente, essas figuras desapareceram fazendo um grande zumbido.
324 No dia seguinte, sentia-me muito enfraquecida, mas já não tinha nenhum sofrimento. Depois da santa Comunhão, vi Nosso Senhor como O tinha visto numa das adorações. O olhar do Senhor atravessou-me a alma; o menor pozinho não Lhe passou despercebido. Eu disse a Jesus: "Jesus, eu pensei que me levaríeis". - E Jesus me respondeu: Ainda não se cumpriu inteiramente em ti a Minha vontade, ainda ficarás na terra, mas não por muito tempo. Agrada-Me muito a tua confiança, mas quero que o amor seja mais ardente. (138) O amor puro dá força à alma no momento da agonia. Quando Eu agonizava na cruz, não pensava em Mim mesmo, mas nos pobres pecadores, e rezava ao Pai por eles. Quero que também os teus últimos momentos sejam inteiramente semelhantes aos Meus na cruz. Um só é o preço pelo qual se resgatam as almas - e é o sofrimento unido ao Meu sofrimento na cruz. Só o amor puro compreende essas palavras, o amor carnal nunca as compreenderá.
325 Ano de 1934. No dia da Assunção de Nossa Senhora não estive na santa Missa; a médica [190] não o permitiu - apenas rezei fervorosamente na cela. Em seguida, vi a Mãe de Deus em beleza indizível - e Ela me disse: Minha filha, exijo de ti oração, oração e mais uma vez oração pelo mundo e especialmente pela tua pátria. Por nove dias, recebe a Comunhão reparadora, une-te estreitamente ao Sacrifício da santa Missa. Durante esses nove dias te apresentarás diante de Deus como vítima de oblação, e sempre, em todo lugar e tempo - de dia ou de noite, toda a vez que te acordares, reza em espírito. Em espírito, sempre se pode perseverar na oração.
326 Em determinado momento, Jesus me disse: O Meu olhar nesta Imagem é o mesmo que Eu tinha na cruz.
327 Em determinado momento, o confessor [191] perguntou-me como deveria ser colocada essa inscrição, visto que tudo isso não cabia nessa Imagem. Respondi que rezaria e responderia na semana seguinte. Quando saí do confessionário - e estava passando diante do Santíssimo Sacramento - recebi a compreensão interior de como devia ser essa inscrição. Jesus me lembrou o que tinha dito na primeira vez, isto é, que três [192] palavras devem ser salientadas. Essas palavras são: Jesus, eu confio em Vós. - Compreendi que Jesus desejava que seja colocada toda a fórmula, mas não me dera uma ordem clara, em relação a essas palavras.
Ofereço aos homens um vaso, com o qual devem vir buscar graças na fonte da misericórdia. O vaso é a Imagem com a inscrição: "Jesus, eu confio em Vós".
328 Ó Amor puríssimo, reinai totalmente no meu coração e ajudai-me a cumprir a Vossa santa vontade da maneira mais fiel.
329 (139) No final do retiro de três dias, tive uma visão: Estava andando por um caminho acidentado, tropeçando a cada passo, e vi que me acompanhava alguém que teimava em me amparar. Eu não gostava disso e pedi que se afastasse de mim, porque queria caminhar sozinha. Mas a figura, que não consegui reconhecer, não me largava, nem por um momento. Fiquei impaciente com isso, voltei-me para ela e a afastei de mim. Nesse momento, reconheci que essa personagem era a madre superiora [193] e, no mesmo momento, vi que não era ela, mas sim Jesus, que olhou bem fundo para mim e deu-me a conhecer como fica magoado, quando eu, mesmo nas mínimas coisas, não procuro cumprir a vontade da superiora - que é a Minha vontade. Pedi perdão ao Senhor e guardei essa advertência no fundo do coração.
330 † Uma vez o confessor me pediu para que eu rezasse em sua intenção - comecei uma novena à Mãe de Deus. Essa novena consistia em rezar nove vezes a Salve Rainha. No final da novena, vi a Mãe Santíssima com o Menino Jesus nos braços, e vi também o meu confessor, que estava ajoelhado a seus pés e conversava com Ela. Não compreendi o que ele dizia à Mãe Santíssima, pois eu estava ocupada em conversar com o Menino Jesus, que desceu dos braços Dela e aproximou-se de mim. Não me cansava de admirar a Sua beleza. Ouvi depois algumas palavras que a Mãe Santíssima lhe dizia, mas não ouvi tudo, e são as seguintes: Não sou apenas a Rainha do céu, mas também a Mãe de Misericórdia e tua Mãe. E, nesse momento, estendeu a mão direita, na qual segurava o manto, e cobriu com ele o sacerdote. No mesmo instante, a visão desapareceu.
331 Oh, que grande graça é ter um guia da alma. Progride-se mais depressa na virtude, conhece-se mais claramente a vontade de Deus, cumpre-se mais fielmente essa vontade Divina, anda-se por um caminho certo e seguro. O guia sabe contornar os rochedos contra os quais [a alma] poderia quebrar-se. Deus me deu essa graça bastante tarde, mas alegro-me muito com ela, vendo como Deus se conforma com os desejos do guia espiritual.
Cito um fato entre os milhares que me acontecem. Como de costume, à noite, eu estava pedindo a Nosso Senhor para me fornecer os assuntos para a meditação de amanhã [194]. Recebi a resposta: Medita sobre o profeta Jonas e sobre sua missão. Agradeci ao Senhor, mas na minha alma comecei a refletir: que meditação diferente (140) das outras. Todavia, com toda a força da alma procurava refletir e encontrei a mim mesma nesse profeta, no sentido de que também eu muitas vezes me escuso diante de Deus, pensando que uma outra pessoa cumpriria melhor a Sua santa vontade - e não compreendo que Deus pode tudo, e que tanto melhor aparecerá o Seu poder - quanto mais imperfeito é o instrumento. Deus esclareceu-me isso. À tarde era a confissão da comunidade. Quando apresentei ao diretor da minha alma o medo que me envolve em virtude dessa missão [195], para a qual Deus está me utilizando como um instrumento incompetente, respondeu-me o diretor espiritual que, queiramos ou não, somos obrigados a cumprir a vontade de Deus, e deu-me o exemplo do profeta Jonas. Terminada a confissão, fiquei pensando de onde o confessor sabia que Deus me havia mandado meditar sobre Jonas, pois não lhe falei disso. Então ouvi estas palavras: O sacerdote, quando Me substitui, não é ele quem age, mas Eu através dele, e os seus desejos são Meus desejos. Vejo como Jesus defende os seus representantes. Ele mesmo se faz presente nas ações deles.
332 † Quinta-feira. Quando comecei a hora santa, queria me concentrar na agonia de Jesus no Jardim das Oliveiras. Então, ouvi na minha alma a voz: Medita sobre os mistérios da Encarnação. E, de repente, surgiu diante de mim o Menino Jesus, radiante de beleza. - Disse-me quanto agrada a Deus a simplicidade da alma. Embora a Minha grandeza seja inconcebível, convivo somente com os pequeninos - exijo de ti a infância espiritual.
333 Vejo agora claramente como Deus age através do confessor e como é fiel nas Suas promessas. Há duas semanas que o confessor manda que eu reflita sobre essa infância espiritual. No começo eu sentia uma certa dificuldade, mas o confessor, não levando em conta a minha dificuldade, ordenou que eu continuasse a meditar sobre essa infância espiritual. "Na prática, essa infância se manifesta da seguinte maneira: A criança não se preocupa com o passado nem com o futuro, mas aproveita o momento presente. Quero estimular na irmã essa infância espiritual e faço muita questão disso".
334 Vejo como [o Senhor] está atendendo aos desejos do confessor, dado que agora não se apresenta diante de mim como um Mestre, na plenitude das forças e da sua maturidade humana, mas como uma criancinha. É o Deus transcendente a todo entendimento, que desce a mim como uma criancinha. Contudo o olhar da minha alma não se detém nessa aparência. - Embora assumais a forma de uma criancinha, eu vejo em Vós o Senhor dos senhores, imortal e ilimitado, a quem glorificam (141) dia e noite os espíritos puros, por quem ardem os corações dos serafins com o fogo do mais puro amor. Ó Cristo, ó Jesus, desejo superá-los no amor para Convosco. Peço-Vos desculpas, espíritos puros, pela ousadia de me comparar a vós. Eu sou o abismo da miséria, o precipício do nado, mas Vós, ó Deus, que sois o abismo inconcebível da misericórdia, absorvei-me como o calor do sol absorve uma gota de orvalho. O Vosso olhar amoroso preenche todo o abismo. Sinto-me imensamente feliz por esta imensa grandeza de Deus - e só entrevê-la me basta para ser feliz por toda a eternidade.
335 Em determinado momento, quando vi Jesus em forma de uma criancinha, perguntei: "Jesus, por que agora conviveis comigo assumindo a forma de uma criancinha? Afinal, assim mesmo, eu reconheço em Vós o Deus inconcebível, meu Criador e Senhor". - Jesus me respondeu que, enquanto eu não aprender a simplicidade e a humildade, conviverá comigo como uma criancinha.
336 † 1934. Durante a santa Missa, na qual Nosso Senhor estava exposto no Santíssimo Sacramento, vi, antes da santa Comunhão, dois raios que saíam da Santíssima Hóstia, iguais aos que estão pintados na Imagem, um vermelho, outro pálido. Refletiam-se em cada uma das irmãs e nas educandas, mas não em todas da mesma maneira. Em algumas, mal estavam esboçados. Deu-se isso no dia em que terminou o retiro das meninas.
337 22.11.1934. † Em determinado momento, o diretor espiritual [196] mandou que eu refletisse profundamente sobre mim mesma e me examinasse, para ver se não tinha algum apego a alguma coisa ou criatura, ou a mim mesma, e se não havia em mim tagarelice desnecessária - porque tudo isso impede que Nosso Senhor se sinta à vontade na minha alma. Deus tem ciúme do nosso coração e quer que amemos somente a Ele.
338 Quando comecei a refletir profundamente sobre mim mesma, não percebi que tivesse apego a qualquer coisa, mas, como em todas as minhas coisas, também aqui tinha receio de mim e não confiava em mim mesma. Cansada com essa investigação minuciosa, fui diante do Santíssimo Sacramento e roguei ao Senhor com toda a força da minha alma: "Jesus, Esposo meu, tesouro do meu coração, (142) Vós sabeis que conheço somente a Vós e não conheço outro amor além de Vós; mas, Jesus, se eu tiver que me apegar a qualquer coisa além de Vós, peço-Vos e suplico-Vos, Jesus, pela força da Vossa misericórdia, enviai-me a morte imediatamente, porque prefiro mil vezes morrer a ser infiel a Vós na mínima coisa".
339 Nesse momento, Jesus surgiu de repente diante de mim, vindo não sei de onde, resplandecente de beleza incriada, vestido de branco e com os braços erguidos - disse-me estas palavras: Minha filha, o teu coração é o Meu repouso e o Meu agrado. Nele encontro tudo o que Me nega tão grande número de almas. Diz isso ao Meu representante. E nesse momento não vi mais nada - apenas todo um mar de consolos inundou a minha alma.
340 Compreendo agora que nada me pode deter no meu amor para Convosco, Jesus - nem o sofrimento, nem as contrariedades, nem o fogo, nem a espada, nem a própria morte. Sinto-me mais forte que tudo isso. Nada pode ser comparado com o amor. Vejo que as mínimas coisas, realizadas por uma alma que ame sinceramente a Deus, têm um valor imenso aos olhos dos Seus santos.
341 11.05.1934. Certo dia, pela manhã, quando abria o portão para deixar entrar o nosso pessoal [197], que distribuem o pão, entrei por um momento na capela para fazer uma visita de um minuto a Jesus e renovar as intenções do dia. "Ó Jesus, eis que hoje ofereço todos os sofrimentos, mortificações, orações na intenção do Santo Padre, para que aprove a Festa da Misericórdia. Mas, Jesus, tenho mais uma palavra para Vos dizer: Estou muito admirada por me mandardes falar dessa Festa da Misericórdia, visto que uma festa assim [198] - dizem-me - já existe. Então, por que tenho que falar disso?".
E Jesus me respondeu: Quem dos homens sabe dela? - Ninguém. E até aqueles que devem divulgar e ensinar os homens sobre a misericórdia, eles mesmos, muitas vezes, não o sabem. Por isso desejo que esta Imagem seja solenemente abençoada no primeiro domingo depois da Páscoa e que receba veneração pública, para que toda alma possa saber disso.
Faz uma novena na intenção do Santo Padre, a qual deve consistir em 33 atos, isto é, repetindo tantas vezes a oração à misericórdia que te ensinei.
342 (143) O sofrimento é o maior tesouro na terra - purifica a alma. No sofrimento conhecemos quem é nosso verdadeiro amigo. O verdadeiro amor é medido com o termômetro dos sofrimentos.
343 Jesus, agradeço-Vos pelas pequenas cruzinhas diárias, pelas contrariedades nos meus planos, pelas dificuldades na vida em comum, pela má interpretação das minhas intenções, pela humilhação que sofro dos outros, pelo procedimento rude comigo, pelos julgamentos injustos, pela saúde fraca e pelo esgotamento físico, pela abnegação da vontade própria, pelo aniquilamento do próprio eu, pela incompreensão em tudo, pelo transtorno de todos os meus planos.
Agradeço-Vos, Jesus, pelos sofrimentos interiores, pela aridez do espírito, pelos temores, medos e incertezas, pelas trevas e pela espessa obscuridade interior, pelas tentações e diversas provações, pelos tormentos que são difíceis de exprimir e, especialmente, por aqueles em que ninguém nos compreenderá, pela hora da morte, pela dificuldade da luta nela, por toda a sua amargura.
Agradeço-Vos, Jesus, que fostes o primeiro a beber desse cálice de amargura, antes de o entregardes a mim, já atenuado. Eis que aproximei os lábios do cálice da Vossa santa vontade; seja feito em mim tudo de acordo com o Vosso querer, seja feito comigo o que a Vossa sabedoria planejou antes dos séculos. Desejo esgotar o cálice dos destinos até a última gota, sem investigar seus significados; na amargura - está a minha alegria, no desespero - a minha confiança. Em Vós, Senhor, tudo o que dá o Vosso Coração de Pai é bom; não prefirindo consolos às amarguras, nem amarguras aos consolos, por tudo Vos agradeço, Jesus. Minha delícia é contemplar-Vos, Deus inconcebível. Nessas misteriosas experiências permanece o meu espírito, aí sinto que estou na minha casa. Conheço bem a morada de meu esposo. Sinto que não existe em mim uma gota de sangue sequer que não esteja inflamada de amor para Convosco.
Ó Beleza não criada, quem Vos conhece uma vez, nada mais pode amar. Sinto o abismo extremo da minha alma e nada pode preenchê-la - a não ser o próprio Deus. Sinto que estou afundando nele como um grãozinho de areia no oceano profundo.
(144) 20.12.1934
344 Em determinado momento à noite, quando entrei na cela, vi Nosso Senhor exposto no ostensório, como que se fosse ao ar livre. Aos pés de Jesus, estava o meu confessor e, atrás dele, um grande número de eclesiásticos de alto grau cujas vestes eu nunca tinha visto, a não ser nesta visão. E, atrás deles, havia membros da vida consagrada. Mais além, vi grandes multidões de pessoas que a minha vista não podia abarcar. Vi saindo da Hóstia esses dois raios tal como na Imagem que se uniram estreitamente, mas não se misturaram, e passaram às mãos do meu confessor e, depois, às mãos desses religiosos. De suas mãos, passaram às pessoas e voltaram à Hóstia... e, nesse momento, me vi na cela, como se mal tivesse acabado de entrar.
345 22.12.1934. Quando durante a semana tive que ir confessar-me, encontrei o meu confessor celebrando a santa Missa. Na terceira parte da Missa, vi o Menino Jesus, um pouco menor do que de costume e com uma túnica diferente, roxa, pois normalmente tem uma branca.
346 24.12.1934. Véspera de Natal. Pela manhã, durante a santa Missa, senti a proximidade de Deus, e o meu espírito irresistivelmente mergulhou Nele. Então ouvi estas palavras: Tu és Minha agradável morada, em ti repousa o Meu Espírito. Após essas palavras senti o olhar do Senhor no fundo do meu coração e, vendo a minha miséria, humilhava-me em espírito e admirava a grande misericórdia de Deus, que fez esse Senhor Altíssimo aproximar-se de uma tão grande miséria.
Durante a santa Comunhão, a alegria inundou a minha alma. Sentia que estou estreitamente unida com a Divindade; a Sua onipotência envolveu todo o meu ser. Ao longo do dia senti a proximidade de Deus de uma maneira especial e, embora as obrigações, durante todo este tempo, não me permitissem ir por um momento sequer à capela, não houve momento em que eu não estivesse unida com Deus; sentia-O em (145) mim de maneira mais sensível do que em outras ocasiões. Saudava sem cessar a Mãe de Deus, procurando adentrar no Seu espírito e pedia-Lhe que me ensinasse o verdadeiro amor a Deus. Então ouvi estas palavras: Esta noite, durante a santa Missa, partilharei contigo o segredo da minha felicidade.
Tivemos a ceia antes das seis horas; apesar da alegria e da algazarra exterior que ocorre por ocasião da partilha do pão ázimo [199], pela troca de votos e felicitações, nem por um momento perdi a consciência da presença de Deus. Após a ceia, apressamo-nos com o serviço, e às nove horas pude ir à capela para a adoração. Recebi autorização para não me deitar logo mas esperar a Missa do Galo. Fiquei imensamente feliz, pois das nove à meia-noite tinha o tempo livre. Das nove às dez, fiz a adoração na intenção dos meus pais e de toda a minha família; das dez às onze, fiz a adoração na intenção do meu diretor espiritual, primeiramente agradecendo a Deus por se ter dignado dar-me esse grande auxílio visível na terra, como me havia prometido, e também pedi a Deus luzes para que ele pudesse conhecer minha alma e dirigir-me de acordo com a vontade de Deus; das onze à meia noite, rezei pela santa Igreja e pelo clero, pelos pecadores, pelas missões, pelas nossas casas; ofereci as indulgências pelas almas do purgatório.
347 Meia-noite, 25.12.1934.
Missa do galo. Logo que teve início a santa Missa, começou a envolver-me o recolhimento interior e a alegria inundou a minha alma. Durante o ofertório, vi o Menino Jesus sobre o altar, de uma beleza incomparável. O Menino ficou olhando para todos, o tempo todo, estendendo as suas mãozinhas. No momento da elevação - não olhava para a capela, mas para o céu; após a elevação, novamente, olhava para nós, mas por pouco tempo, porque, como de costume, foi partido e consumido pelo sacerdote. Nesta altura, já tinha a túnica branca. No dia seguinte, tive a mesma visão, e no terceiro dia também. É difícil expressar a alegria que eu sentia na minha alma. (146) Essa visão repetiu-se em três santas Missas, da mesma maneira que nas primeiras.
348 Ano de 1934.
Primeira quinta-feira depois do Natal. Esqueci completamente que era quinta-feira e, por isso, não fiz a adoração. Junto com [as irmãs] fui ao dormitório às nove horas. Estranhamente, não conseguia dormir. Parecia-me que ainda não havia cumprido alguma coisa. Mentalmente, passei em revista as minhas obrigações e não era capaz de me lembrar do que fosse, e isso durou até as dez horas. Às dez horas vi a face do Senhor martirizado. Então Jesus disse-me estas palavras: Esperei por ti para partilhar contigo o sofrimento, pois quem compreende melhor o Meu sofrimento do que a Minha esposa? Pedi perdão a Jesus pela minha tibieza e, envergonhada, nem sequer ousava olhar para Nosso Senhor, mas, com o coração contrito, pedi que Jesus se dignasse dar-me um espinho da Sua coroa. Jesus respondeu que me daria essa graça, mas só no dia seguinte, e a visão desapareceu de imediato.
349 De manhã, durante a meditação, senti um doloroso espinho no lado esquerdo da cabeça; o sofrimento durou o dia todo e eu meditava sem cessar como Jesus havia conseguido aguentar a dor de tantos espinhos que tinha na coroa. Unia os meus sofrimentos aos sofrimentos de Jesus e oferecia-os pelos pecadores. Às quatro horas, quando vim para a adoração, vi uma das nossas educandas ofendendo terrivelmente a Deus por pensamentos impuros. Vi também uma certa pessoa que era a causa do pecado dela. O temor atravessou a minha alma e pedi a Deus, pelas dores de Jesus, que se dignasse arrancá-la dessa terrível miséria. Jesus respondeu-me que lhe concederia essa graça não por ela, mas em atenção ao meu pedido, e então compreendi quanto devemos rezar pelos pecadores, especialmente pelas nossas educandas.
350 A nossa vida é verdadeiramente apostólica; não consigo imaginar uma religiosa que viva nas nossas casas, ou seja, na nossa congregação, que não tenha o espírito apostólico. O zelo pela salvação das almas deve arder nos nossos corações.
351 (147) Ó meu Deus, como é doce sofrer por Vós, sofrer nos mais ocultos recônditos do coração e no maior segredo; arder em sacrifício que por ninguém é notado, puro como um cristal - sem nenhum consolo, nem compaixão. O meu espírito arde em amor ativo. Não perco tempo em fantasias e aproveito cada um dos momentos, porque ele me pertence; o passado já não me pertence, o futuro não é meu; procuro aproveitar o tempo presente com toda a alma.
352 04.01.1935. Primeiro Capítulo [200] da madre Borgia.
Nesse capítulo, a madre [201] salientou a vida de fé e a fidelidade, mesmo nas pequenas coisas. Na metade do capítulo, ouvi estas palavras: Desejo que haja em vós mais fé nos momentos presentes. Que grande alegria Me traz a fidelidade de Minha esposa nas mínimas coisas. Então olhei para o crucifixo e vi que Jesus tinha a cabeça virada para o refeitório e que os Seus lábios se moviam.
353 Quando falei disso à madre superiora, ela me respondeu: "Veja, irmã, como Jesus exige que a nossa vida seja uma vida de fé." - Quando a madre afastou-se para a capela e eu limpava a sala, ouvi estas palavras: Diz a todas as irmãs que exijo que vivam pelo espírito da fé, em relação às superioras, no momento presente. Pedi, entretanto, ao confessor que me liberasse dessa obrigação.
354 Quando eu estava conversando com certa pessoa que devia pintar a Imagem, mas que por certas razões não a estava pintando, ouvi durante a conversa com ela esta voz na alma: Desejo que ela seja mais obediente. Compreendi que os esforços, ainda que sejam os maiores, se não tiverem o selo da obediência, não são agradáveis a Deus - estou falando da alma religiosa. Ó Deus, como é fácil conhecer a Vossa vontade na vida religiosa! Nós, almas consagradas, possuímos, de manhã à noite, bem definida a vontade de Deus, e nos momentos de incerteza temos as superioras, pelos quais Deus nos fala.
355 (148) 1934-1935. Véspera de ano-novo. Recebi autorização para não me deitar e ficar rezando na capela. Uma das irmãs pediu-me que eu oferecesse por ela uma hora de adoração. - Concordei e fiquei rezando por ela a hora inteira. Durante a oração Deus deu-me a conhecer como Lhe era muito agradável essa pequena alma.
Ofereci a segunda hora de adoração pela conversão dos pecadores e tentava desagravar a Deus, especialmente, pelas ofensas nesse preciso momento. Oh, quanto Deus está sendo ofendido!
Ofereci a terceira hora na intenção do meu diretor espiritual; rezei com fervor, pedindo luzes para ele num assunto particular.
Finalmente, soaram as doze badaladas, a última hora do ano - terminei-a em nome da Santíssima Trindade e também comecei a primeira hora do ano-novo em nome Dela. Pedi a benção a cada uma das Pessoas e olhei com grande confiança para o novo ano, que com certeza, será pródigo em sofrimentos.
356 Ó Hóstia Santa, na qual está encerrado o testamento da misericórdia divina para nós, e especialmente para os pobres pecadores!
Ó Hóstia Santa, na qual está encerrado o Corpo e o Sangue do Nosso Senhor, como testemunho da infinita misericórdia para conosco, e especialmente para com os pobres pecadores!
Ó Hóstia Santa, na qual está encerrada a vida eterna e a infinita misericórdia, concedida copiosamente a nós, e especialmente aos pobres pecadores!
Ó Hóstia Santa, na qual está encerrada a misericórdia do Pai, do Filho e do Espírito Santo para conosco, e especialmente para com os pobres pecadores!
(149) Ó Hóstia Santa, na qual está encerrado o infinito preço da misericórdia, que pagará todas as nossas dívidas, e especialmente para com os pobres pecadores!
Ó Hóstia Santa, na qual está encerrada a Fonte da Água Viva, que brota da infinita misericórdia para conosco, e especialmente para com os pobres pecadores!
Ó Hóstia Santa, na qual está encerrado o fogo do amor mais puro, que arde no seio do Pai Eterno, como num abismo de infinita misericórdia para conosco, e especialemente para com os pobres pecadores!
Ó Hóstia Santa, na qual está encerrado o remédio para todas as nossas doenças, que flui da infinita Misericórdia como de uma fonte para nós, e especialmente para os pobres pecadores!
Ó Hóstia Santa, na qual está encerrada a união entre Deus e nós, pela infinita misericórdia para conosco, e especialmente para com os pobres pecadores!
Ó Hóstia Santa, na qual estão encerrados todos os sentimentos do dulcíssimo Coração de Jesus para conosco, e especialmente para com os pobres pecadores!
Ó Hóstia Santa, nossa única esperança, em todos os sofrimentos e contrariedades da vida!
Ó Hóstia Santa, nossa única esperança, em meio às trevas e às tempestades interiores e exteriores!
Ó Hóstia Santa, nossa única esperança na vida e na hora da morte!
Ó Hóstia Santa, nossa única esperança em meio aos insucessos e às profundas incertezas!
Ó Hóstia Santa, nossa única esperança em meio às falsidades e às traições!
Ó Hóstia Santa, nossa única esperança nas trevas e na perversidade que cobrem a terra!
Ó Hóstia Santa, nossa única esperança em meio à saudade e à dor, em que ninguém nos compreende!
(150) Ó Hóstia Santa, nossa única esperança em meio aos afazeres e à monotonia da vida cotidiana!
Ó Hóstia Santa, nossa única esperança em meio às ruínas dos nossos anseios e esforços!
Ó Hóstia Santa, nossa única esperança em meio aos ataques do inimigo e às investidas do inferno!
Ó Hóstia Santa, confio em Vós, quando as dificuldades superarem as minhas forças, quando eu vir ineficazes os meus esforços!
Ó Hóstia Santa, confio em Vós, quando as tempestades agitarem o meu coração e o espírito atemorizado inclinar-se ao desespero!
Ó Hóstia Santa, confio em Vós, quando o meu coração tremer e quando o suor mortal cobrir a minha fronte!
Ó Hóstia Santa, confio em Vós, quando tudo conspirar contra mim e o negro desespero dominar a minha alma.
Ó Hóstia Santa, confio em Vós, quando a minha vista se apagar para tudo o que é terrestre, e o meu espírito vir pela primeira vez os mundos desconhecidos!
Ó Hóstia Santa, confio em Vós, quando os meus trabalhos superarem as minhas forças, e o insucesso me acompanhar continuamente!
Ó Hóstia Santa, confio em Vós, quando o cumprimento da virtude me parecer difícil e a minha natureza se revoltar!
Ó Hóstia Santa, confio em Vós, quando os golpes do inimigo forem desferidos contra mim!
Ó Hóstia Santa, confio em Vós, quando os trabalhos e os esforços forem condenados pelos homens!
Ó Hóstia Santa, confio em Vós, quando soar sobre mim o Vosso Juízo; então, confiarei no oceano da Vossa misericórdia!
357 † Ó Santíssima Trindade, confio em Vossa infinita misericórdia. Deus é meu Pai, portanto eu, como Sua mais pequena filha, tenho todos os direitos sobre o Seu Coração divino; e quanto maiores as trevas, tanto mais completa deve ser a nossa confiança.
358 Não compreendo como é possível não confiar Naquele que tudo pode. Com Ele tudo, e sem Ele - nada. Ele é o Senhor e não permitirá, nem consentirá, que sejam confundidos aqueles que puseram Nele toda a sua confiança.
359 (151) 10.01.1935. † Quinta-feira. À noite, durante a bênção [202], começaram a atormentar-me estes pensamentos: tudo isso que tinha dito sobre essa grande misericórdia de Deus nào será, talvez, apenas uma mentira, ou uma ilusão?... Quis refletir um momento sobre isso; então ouvi uma forte e clara voz interior: Tudo o que dizes sobre a Minha bondade é verdade, mas não existem expressões suficientes para glorificar a Minha bondade. Essas palavras eram tão cheias de vigor e tão claras que daria a minha vida como prova de que são de Deus. Reconheço-as pela profunda paz que nessas ocasiões me acompanha e continua comigo. Essa paz me dá tão grande vigor e força que todas as dificuldades, contrariedades e sofrimentos, e até a própria morte, nada representam. Essa luz fez-me perceber que são muito agradáveis a Deus todos os esforços que estou empreendendo para que as almas conheçam a misericórdia do Senhor; isso me causa uma alegria tão grande que não sei se, no céu, pode haver uma maior.
Oh, se as almas quisessem ouvir, ao menos um pouco, a voz da consciência e a voz, ou melhor - a inspiração do Espírito Santo! Digo "ao menos um pouco" - porque, se nos entregarmos uma vez à influência do Espírito de Deus, Ele mesmo completará o que nos faltar.
360 † Ano-Novo de 1935
Jesus gosta de entrar nos mínimos detalhes da nossa vida e, muitas vezes, satisfaz os meus desejos secretos, que frequentemente Lhe oculto, embora saiba que diante Dele nada se pode esconder.
No ano-novo, temos o costume de sortear os padroeiros [203] particulares para o ano todo; de manhã, durante a meditação, despertou em mim um desses desejos secretos de que Jesus Eucarístico fosse o meu padroeiro particular também para este ano - como anteriormente. Contudo, ocultando esse desejo diante de meu Amado, falava com Ele de tudo, menos de que queria tê-Lo como padroeiro. Quando fomos ao refeitório para o café da manhã, após fazermos o sinal da cruz, começamos a sortear os padroeiros. Quando me aproximei dos santinhos em que estavam escritos os nomes dos padroeiros, peguei um ao acaso, mas sem o ver imediatamente (152), pois queria mortificar-me por alguns minutos. Então, ouvi uma voz na alma: Sou o teu padroeiro; lê! Nesse momento, olhei para a inscrição e li: "Padroeiro para o ano de 1935 - Santíssima Eucaristia". O meu coração estremeceu de alegria, afastei-me secretamente do grupo das irmãs e fui ter com o Santíssimo Sacramento, ainda que por um breve tempo, e aí dei vazão aos sentimentos do meu coração. Contudo, Jesus admoestou-me docemente que devia permanecer, nesse momento, junto das irmãs; fui imediatamente, obedecendo à regra.
361 Deus Trino e Uno, inconcebível na grandeza da misericórdia para com as criaturas, e especialmente para com os pobres pecadores! Revelastes o abismo da Vossa misericórdia inconcebível e sempre imperscrutável a qualquer mente, humana ou angélica. O nosso nada e a nossa miséria afundam-se na Vossa grandeza; ó bondade infinita, quem Vos glorificará dignamente? - Haverá uma alma que Vos compreenda no Vosso amor? Ó Jesus, existem tais almas, mas são poucas.
362 † Um dia, durante a meditação da manhã, ouvi esta voz: Eu mesmo sou o teu diretor, fui, sou e serei, mas, já que pediste uma ajudavisível, Eu mesmo o dei e escolhi para ti, antes que o pedisses, porque assim o exige a Minha causa. Fica sabendo que os erros que cometes contra ele ferem o Meu Coração; evita especialmente a arbitrariedade; que na mínima coisa esteja o selo da obediência.
Pedi perdão ao Senhor por esses erros - com o coração humilhado e contrito; e também pedi perdão ao diretor espiritual e decidi nada fazer, antes que fazer muito e mal.
363 Ó bom Jesus, agradeço-Vos por essa grande graça, isto é, que me dais a conhecer quem sou por mim mesma - miséria e pecado, nada mais. Só uma coisa posso fazer por mim mesma, isto é, ofender-Vos, ó meu Deus, porque a miséria nada mais consegue fazer, além de ofender-Vos, ó Bondade infinita!
364 (153) † Uma vez pediram-me orações por uma certa alma. Resolvi fazer logo uma novena à Misericórdia do Senhor e a essa novena acrescentar uma mortificação, isto é, usar a pequena corrente [204] em ambos os pés, durante a santa Missa. Exercitei-me, por três dias, nessa mortificação. Quando fui confessar-me e disse ao diretor espiritual que com permissão presumida empreendi essa mortificação, pensei que o diretor espiritual não teria nada contra isso. E, no entanto, ouvi o contrário, isto é, que sem permissão nada fizesse sozinha. Ó meu Jesus, novamente a arbitrariedade. Mas, não desanimo com minhas quedas, sei bem que sou miserável. Por razões de saúde não recebi a autorização, e admirou-se o diretor espiritual de que eu pudesse, sem a sua licença, exercitar-me em mortificações maiores.
Pedi perdão pela minha arbitrariedade ou, antes, por me guiar por permissões presumidas, e pedi que me indicasse outra. O diretor espiritual substituiu-a por uma mortificação interior, isto é, que durante uma das santas Missas eu devia refletir - por que é que Jesus consentiu em receber o batismo. Essa meditação não era uma mortificação para mim, pois pensar sobre Deus é um deleite e não mortificação, mas havia aí a mortificação da vontade, por estar fazendo não o que é do meu agrado, mas o que me foi mandado, e nisso consiste a mortificação interior.
365 Quando me afastei do confessionário e comecei a cumprir a penitência, ouvi estas palavras: Concedi a graça àquela alma pela qual Me pediste, mas não pela mortificação que tu mesma escolheste; foi apenas pelo ato de total obediência para com o Meu representante que dei a graça a essa alma pela qual Me pediste e suplicaste misericórdia. Fica sabendo que, quando mortificas em ti a vontade própria, então a Minha vontade reina em ti.
366 Ó meu Jesus, tende paciência comigo, tomarei mais cuidado para o futuro, não confiando em mim mesma, mas na Vossa graça e bondade, que são tão grandes para comigo, tão miserável.
367 (154) † Em determinado momento, Jesus me fez conhecer que, quando Lhe peço alguma coisa na intenção que frequentemente me recomendam, está sempre pronto a conceder Suas graças, embora as almas nem sempre queiram aceitá-las: Meu Coração está repleto de grande misericórdia para com as almas, e especialmente para com os pobres pecadores. Oh, se pudessem compreender que Eu sou para eles o melhor Pai, que por eles jorrou do Meu Coração o Sangue e a Água como de uma fonte transbordante de misericórdia. Para eles resido no sacrário e como Rei de Misericórdia desejo conceder graças às almas, mas não querem aceitá-las. Ao menos tu vem visitar-Me com a maior frequência possível e toma essas graças que eles não querem aceitar, pois com isso consolarás Meu Coração. Oh, como é grande a indiferença das almas para com tanta bondade, para com tantas provas de amor. O Meu Coração se enche somente de ingratidão, de esquecimento por parte das almas que vivem no mundo; para tudo têm tempo, apenas não têm tempo para vir buscar as Minhas graças.
Portanto, dirijo-Me a vós - almas escolhidas, será que também vós não compreendeis o amor do Meu Coração? Também aqui decepcionou-se Meu Coração: não encontro a total entrega ao Meu amor. Tantas reservas, tantas desconfianças, tantas precauções. Para o teu consolo, direi que existem almas que vivem no mundo que Me amam sinceramente, permaneço com prazer nos seus corações, mas não são muitas. Existem, também, nos conventos, almas que enchem de alegria Meu Coração. Nelas estão gravadas Minhas feições e, por isso, o Pai Celestial olha para elas com especial predileção. Elas serão o alvo de admiração dos anjos e dos homens, mas o seu número é muito pequeno. Elas são o baluarte contra a justiça do Pai Celestial e elas alcançam a misericórdia para o mundo. O amor e o sacrifício dessas almas sustentam a existência do mundo. O que mais fere o Meu Coração é a infidelidade de uma alma por Mim especialmente escolhida. Essas infidelidades são lanças que transpassam o Meu Coração.
368 (159) 29.01.1935. Nesta terça-feira de manhã, durante a meditação, vi o Santo Padre celebrando a santa Missa. Após o Pai-Nosso, ele estava conversando com Nosso Senhor a respeito do assunto sobre o qual Jesus tinha ordenado que lhe falasse. Embora eu não tivesse falado sobre isso pessoalmente com o Santo Padre, pois essses assuntos estão sendo resolvidos por outra pessoa [205], naquele momento, porém, soube, por um conhecimento interior, que o Santo Padre estava refletindo sobre essa questão, que irá em breve ser resolvida de acordo com os desejos de Jesus.
369 Quando antes do retiro de oito dias fui falar com meu diretor espiritual e lhe pedi autorização para certas mortificações durante esse período - não recebi autorização para tudo o que pedi, mas apenas para algumas. Recebi autorização para uma hora de meditação sobre a Paixão de Nosso Senhor e para uma certa humilhação. Fiquei um pouco insatisfeita por não ter obtido licença para tudo o que tinha pedido. Quando voltamos para casa, entrei por um momento na capela, e então ouvi na alma a voz: Uma hora de reflexão sobre a Minha dolorosa Paixão tem maior mérito do que um ano inteiro de flagelação até o sangue; a reflexão sobre as Minhas dolorosas Chagas é muito proveitosa para ti, e a Mim causa uma grande alegria. Estou admirado que não renunciaste ainda plenamente à vontade própria, mas alegro-Me muito porque tal mudança se dará no retiro.
370 Nesse mesmo dia, quando me encontrava na igreja esperando para me confessar, vi os mesmos raios saindo do ostensório e espalhando-se por toda a igreja. Isso durou todo o tempo da cerimônia. Depois da benção, os raios saíram para ambos os lados - e novamente voltaram para o ostensório. Tinham um aspecto brilhante e transparente como um cristal. Pedi a Jesus que se dignasse acender o fogo do Seu amor em todas as almas tíbias. Sob esses raios o coração se aquecerá, ainda que seja frio como um pedaço de gelo, ainda que seja duro como uma pedra, se reduzirá a pó.
†
371 (156) J.M.J. Vilnius 04.02.01935 Retiro de oito dias
Jesus, Rei de Misericórdia, neste momento, novamente encontro-me a sós Convosco. Por isso suplico-Vos por todo o Vosso amor, de que está inflamado o Vosso divino Coração, destruí completamente o amor-próprio em mim e, por sua vez, inflamai o meu coração com o fogo do Vosso amor puríssimo.
372 À noite, terminada a conferência, ouvi estas palavras: Eu estou contigo. Nesse retiro, Eu te confirmarei na paz e na coragem, a fim de que não te faltem forças para cumprir os Meus desígnios. Por isso, nesse retiro, riscarás por completo tua vontade própria e, em troca, se cumprirá em ti toda a Minha vontade. Fica sabendo que isso te custará muito, por isso, escreve numa folha em branco estas palavras: "A partir de hoje não existe em mim a vontade própria", e risca-a. Do outro lado escreve estas palavras: "A partir de hoje cumprirei a vontade de Deus, em toda parte, sempre e em tudo". Não te assustes com nada, o amor te dará forças e facilitará o cumprimento.
373 Na meditação fundamental sobre a finalidade última, ou seja, sobre a eleição do amor, a alma tem que amar, tem necessidade disso. A alma tem que derramar o seu amor, não no lodo, não no vazio, mas em Deus. Como me alegro quando reflito sobre isso, porque sinto claramente que Ele somente está no meu coração. Unicamente Jesus. As criaturas, eu as amo na medida em que me ajudam na união com Deus. Amo a todos os homens, porque vejo neles a Imagem divina.
†
(157) J.M.J.
374 De hoje em diante não há em mim vontade própria. Vilnius, 04.02.1935
No momento em que ajoelhei-me para riscar a minha vontade própria, como o Senhor me mandou, ouvi, na minha alma, esta voz: A partir de hoje não tenhas medo dos juízos de Deus, porque tu não serás julgada.
†
(158) J.M.J. Vilnius, 04.02.1935
A partir de hoje, cumprirei a vontade de Deus, em toda a parte, sempre e em tudo [206].
†
375 (159) J.M.J. Vilnius, 04.02.1935
Trabalho interior particular, ou exame de consciência. Da renúncia de si, da vontade própria.
I. Abnegação da inteligência, isto é, submissão à inteligência daqueles que, na terra, ocupam para mim o lugar de Deus.
II Abnegação da vontade, isto é, cumprir a vontade de Deus, que se manifesta na vontade daqueles que ocupam o lugar de Deus e que está contida na regra da nossa congregação.
III. Abnegação do julgamento, isto é, aceitar imediatamente toda ordem que me for dada por aquees que ocupam o lugar de Deus, sem refletir, analisar, raciocinar.
IV. Abnegação da língua. Não lhe consentirei a mínima liberdade; num só caso lhe permitirei liberdade total - isto é, na proclamação da glória de Deus. Sempre que receber a santa Comunhão pedirei a Jesus que se digne fortificar e purificar a minha língua, para que com ela eu não fira o próximo. Por essa razão, tenho o máximo respeito pela regra que me fala do silêncio.
376 Meu Jesus, confio que a Vossa graça me ajudará a cumprir esses propósitos. Embora os pontos acima estejam contidos no voto da obediência, desejo exercitar-me nisso de maneira especial, já que se trata da essência mesma da vida religiosa. Jesus Misericordioso, peço-Vos ardentemente, dai luzes à minha inteligência para que eu possa melhor conhecer a Vós, que sois o Ser infinito, e para que possa conhecer melhor a mim mesma, que sou apenas o nada.
377 (160) Da santa confissão. Dela devemos tirar dois proveitos:
1. Vamos à confissão para sermos curados.
2. Para sermos educados - a nossa alma tem necessidade de ser educada continuamente, como uma pequena criança.
Ó meu Jesus, compreendo profundamente essas palavras e sei, por experiência própria, que a alma não consegue ir longe com as próprias forças; terá muito trabalho e nada fará para a glória de Deus; erra continuamente, visto que a nossa mente é obscurecida e não consegue discernir a própria causa. Em duas coisas prestarei atenção especial: primeiro - escolherei para a confissão o que mais me humilha, ainda que seja uma insignificância, que porém me custa muito [207] e por isso mesmo devo dizê-lo; segundo - vou me exercitar na contrição e, não somente por ocasião da confissão, mas despertarei em mim mesma o arrependimento perfeito em cada exame de consciência e, especialmente, à noite ao me deitar. Uma palavra ainda: a alma que deseja sinceramente progredir na perfeição, deve observar estritamente os conselho que forem dados pelo diretor espiritual. Tanto é a santidade quanto é a dependência.
378 Em determinado momento, quando conversava com o meu diretor espiritual, vi inteiormente, mais depressa que num relâmpago, a sua alma em grande sofrimento, num tal martírio que só poucas almas o experimentam. Esse sofrimento provém dessa obra. Virá o tempo em que essa obra [208], que Deus tanto recomenda, será como que totalmente destruída - e, depois disso, a ação de Deus se manifestará com grande força, dando testemunho da verdade. Ela [essa obra] será um novo esplendor para a Igreja, embora há muito tempo nela já exista. Que Deus é infinitamente misericordioso, ninguém o poderá negar; mas Ele deseja que todos saibam disso; antes que venha novamente como Juiz, quer que primeiro as almas O conheçam como Rei de Misericórdia. Quando vier esse triunfo, nós já estaremos na vida nova, na qual não há sofrimentos. Mas, antes disso, a sua alma será repleta de amargura à vista da ruína dos seus esforços. Contudo, essa destruição será apenas ilusória, visto que Deus não muda o que uma vez tenha decidido; mas, ainda que a destruição (161) seja aparente, o sofrimento será bem real. Quando isso sucederá - não sei; quanto tempo vai durar - não sei [209]. Mas Deus prometeu uma grande graça - especialmente a ti e a todos [210] que proclamarem esta Minha grande misericórdia. Eu mesmo os defenderei na hora da morte como a Minha glória. E ainda que os pecados da alma fossem negros como a noite, quando o pecador recorre à Minha misericórdia, presta-Me a maior glória e é a honra da Minha Paixão. Quando a alma glorifica a Minha bondade, então satanás treme diante dela e foge até o fundo do inferno.
379 Durante uma adoração Jesus me prometeu: As almas que recorrem à Minha misericórdia e aquelas que glorificaram e anunciarem aos outros a Minha grande misericórdia, na hora da morte, Eu as tratarei de acordo com a Minha infinita misericórdia.
O Meu Coração sofre - disse Jesus - porque até as almas eleitas não compreendem como é grande a Minha misericórdia. A convivência delas está imbuída de uma certa desconfiança. Oh, como isso fere Meu Coração! Lembrai-vos da Minha Paixão e, se não credes nas Minhas palavras, crede ao menos nas Minhas Chagas.
380 Não faço nenhum movimento, nenhum gesto de acordo com o meu gosto, porque estou presa pela graça; mantenho-me sempre atenta ao que mais agrada a Jesus.
381 Numa meditação sobre a obediência, ouvi estas palavras: Nesta meditação, o sacerdote está falando [211] excepcionalmente para ti. Fica sabendo que eu tomo emprestado a boca dele. - Procurava escutar tudo com maior atenção e aplicava tudo ao meu coração, como em toda a meditação. Quando o sacerdote disse que a alma obediente torna-se cheia do poder de Deus - Sim[212], quando és obediente, retiro-te a tua fraqueza e, em compensação, dou-te a Minha força. Fico muito admirado de que as almas não queiram fazer essa troca Comigo. Eu disse ao Senhor: "Jesus, iluminai a minha alma, porque de outro modo compreenderei bem pouco essas palavras".
382 (162) Sei que não vivo para mim, mas para um grande número de almas. Sei que as graças que me são concedidas não são apenas para mim - mas para as almas. Ó Jesus, o abismo da Vossa misericórdia derramou-se na minha alma, que é apenas o abismo de miséria. Agradeço-Vos, Jesus, pelas graças e pelos pedacinhos da cruz que me dais a cada momento da vida.
383 No começo do retiro, vi Nosso Senhor no teto da capela, pregado na cruz, olhando com grande amor para as irmãs, mas não para todas. Havia três irmãs[213] para as quais Jesus olhava com severidade. Não sei por que motivo. Sei apenas que é terrível o olhar de Juiz severo. Esse olhar não se dirigia para mim, mas mesmo assim fiquei aterrorizada e, escrevendo isso, estou tremendo toda. Não ousei dirigir a Jesus sequer uma palavra; as forças físicas me abandonaram e pensei que não aguentaria até o fim da conferência. No dia seguinte, novamente vi a mesma coisa que da primeira vez e ousei dizer estas palavras: "Jesus, quão grande é a Vossa misericórdia". - No terceiro dia repetiu-se novamente o mesmo olhar para todas as irmãs com grande bondade, com exceção dessas três. Então, criei coragem e, incitada pelo amor ao próximo, disse ao Senhor: "Vós sois a própria Misericória, como Vós mesmo me dissestes, por isso Vos suplico, pelo poder dessa Misericórdia, voltai o Vosso olhar bondoso também para essas três irmãs e, se isso não estiver de acordo com a Vossa sabedoria, peço-Vos uma troca: que o Vosso olhar bondoseo, que se dirige para a minha alma, seja para elas, e o olhar severo para as almas delas seja para mim". - Então, Jesus disse-me estas palavras: Minha filha, pelo teu sincero e generoso amor, concedo-lhes muitas graças; embora elas não Me peçam, faço isto por causa da promessa que fiz a ti. E, nesse momento, envolveu com um olhar misericordioso também essas três irmãs. O meu coração palpitou de grande alegria ao ver a bondade de Deus.
384 (163) Quando estive na adoração das 9 às 10 horas, ficaram também mais quatro irmãs. Quando me aproximei do altar e comecei a refletir sobre a Paixão de Nosso Senhor, logo uma dor terrível encheu a minha alma, por causa da ingratidão de tantas almas que vivem no mundo; mas, doía-me mais a ingratidão das almas especialmente escolhidas por Deus. Não se pode imaginar, nem comparar. À vista dessa ingratidão tão negra, senti como se o meu coração se rasgasse; as forças físicas abandonaram-me completamente e caí de bruços, não sendo capaz de ocultar o meu pranto, em voz alta. Todas as vezes que me lembrava da grande misericórdia de Deus e da ingratidão das almas, a dor transpassava-me o coração e compreendi quanto isso fere o dulcíssimo Coração de Jesus. Com o coração ardente, renovei o meu ato de oferecimento pelos pecadores.
385 Com anseio e alegria aproximo os lábios do cálice de amargura que tomo diariamente na santa Missa. É o quinhão que Jesus me destinou para todo o tempo, e este não entregarei a ninguém: Consolarei sem cessar o dulcíssimo Coração Eucarístico, tocarei canções de gratidão nas cordas do meu coração; o sofrimento é, de todos, o mais harmonioso dos tons. Procurarei estar sempre atenta ao que possa alegrar hoje o Vosso Coração.
386 Sinto que Deus me permitirá afastar esse véu, para que a terra não duvide da Sua bondade. Deus não está sujeito a eclipses nem a mudanças. É um só e o mesmo pelos séculos, e nada se pode opor à Sua vontade. Dentro de mim sinto uma força maior que a humana, sinto a coragem e a força que me vem através da graça que habita em mim. Compreendo as almas que sofrem contra toda a esperança, pois experimentei em mim mesma esse fogo. Contudo, Deus não permite sofrer além das forças. Muitas vezes, vivi esperando contra a esperança e levei a minha esperança até a plena confiança em Deus. Faça-se em mim o que Ele decidiu desde os séculos.
387 (164) Princípio geral. Seria muito feio se uma religiosa procurasse alívio no sofrimento.
388 Vejam o que a graça e a meditação fizeram do maior criminoso. Esse morinbundo tem muito amor: "Lembra-te de mim quando estiveres no paraíso". A contrição sincera imediatamente transforma a alma. A vida espiritual deve ser levada a sério e com sinceridade.
389 O amor deve ser recíproco. Se o Senhor Jesus aceitou por mim todo o amargor, então eu, Sua esposa, como prova de meu amor para com Ele, aceitarei toda amargura.
390 Quem sabe perdoar, prepara para si muitas graças da parte de Deus. Todas as vezes que olhar o crucifixo, perdoarei sinceramente.
391 Pelo batismo, entramos em união com as outras almas. A morte estreita os laços do amor. Devo sempre prestar ajuda aos outros. Se eu for uma boa religiosa, serei útil não apenas à congregação, mas à pátria toda.
392 Deus concede as graças de duas maneiras: pelas inspirações e pelas iluminações. Se pedimos uma graça, Deus a dará, mas queiramos aceitá-la; todavia, para aceitá-la, é necessária a renúncia de si mesmo. O amor não consiste em palavras nem em sentimentos, mas em atos. É uma ato da vontade, é um dom, isto é, uma doação; a razão, a vontade, o coração - temos que exercitar essas três faculdade durante a oração. Ressuscitarei em Jesus, mas primeiro tenho que viver Nele. Se não me seprar da cruz, então se manifestará em mim o Evangelho. Tudo o que me falta, Jesus completa em mim - é a Sua graça que age sem cessar. A Santíssima Trindade me comunica Sua vida em abundância, pelo dom do Espírito Santo.
As Três Pessoas Divinas residem em mim. Deus, quando ama, ama com todo o Seu Ser, com todo o poder da Sua Essência. Se Deus me amou assim, como corresponderei eu - Sua esposa?
393 (165) Durante uma conferência, Jesus me disse: No cacho escolhido de uvas és uma uva doce; desejo que o suco que circula em ti comunique-se às outras almas.
394 Durante a renovação [214] vi Nosso Senhor ao lado da Epístola, vestido de branco, cingido por um cinto de ouro, segurando na mão uma espada terrível. Isso durou até o momento em que as irmãs começaram a renovar os votos. Então vi uma claridade inconcebível, e diante dessa claridade uma nuvem branca em forma de pratos de uma balança. Então, Jesus se aproximou e colocou a espada num dos pratos, que logo pendeu com todo o seu peso para a terra e quase a atingia. Nesse momento, as irmãs terminaram a renovação dos votos. Então, de repente, vi anjos que tiraram de cada uma das irmãs alguma coisa, depositando-a num vaso de ouro, que tinha como que a forma de um turíbulo. Quando terminaram o recolhimento e colocaram o vaso no outro prato, este imediatamente pesou mais que o primeiro, no qual estava a espada. Nesse momento saiu uma chama daquele turíbulo, elevando-se até aquela claridade. Então ouvi uma voz daquela claridade: Guardai a espada no seu lugar, pois o sacrifício é maior. Nesse instante, Jesus deu-nos a bênção e desapareceu tudo o que eu tinha visto. As irmãs já começaram a receber a santa Comunhão. Quando recebi a santa Comunhão, minha alma foi inundada por uma alegria tão grande que nem sei descrever.
395 15.02.1935. Viagem por alguns dias à casa paterna(165) a fim de visitar minha mãe, que estava morrendo.
Quando soube que minha mãe estava gravemente doente e já próxima da morte, pedindo que eu viesse, porque desejava ver-me mais uma vez antes de morrer - imediatamente despertaram em mim todos os sentimentos do coração. Como uma filha que ama sinceramente sua mãe, eu desejava ardentemente atender ao pedido dela. Mas deixei tudo nas mãos de Deus e submeti-me inteiramente à Sua vontade; sem me importar com a dor do coração, eu me atinha ao desígnio de Deus. No dia do meu onomástico, 15 de fevereiro (166), pela manhã, a madre superiora deu-me uma outra carta da família e me concedeu a licença para ir à casa paterna, para atender ao desejo e ao pedido da minha mãe que estava morrendo. Logo comecei a me preparar para a viagem, e já à noite parti de Vilnius.
396 Ofereci toda essa noite pela minha mãe, tão gravemente doente, para que Deus lhe concedesse a graça de que os sofrimentos por que estava passando em nada perdessem seu mérito. Durante a viagem tive uma companhia muito agradável, porque no mesmo compartimento viajavam algumas senhoras de uma confraria mariana; senti que uma delas tinha um grande sofrimento e que na sua alma travava-se uma luta encarniçada. Comecei, mentalmente, a rezar por ela. Às onze horas, as outras senhoras passaram para um outro compartimento para conversar, e ficamos apenas as duas. Eu sentia que minha oração estava provocando nessa alma uma luta ainda maior. Eu não a consolava, mas rezava com fervor ainda maior. Finalmente, dirigiu-se a mim e pediu que lhe respondesse se tinha obrigação de cumprir uma promessa feita a Deus. Imediatamente, conheci interiormente que promessa era essa e respondi: "A senhora tem a obrigação absoluta de cumprir essa promessa, porque de outra forma será infeliz durante toda a sua vida. Esse pensamento não deixará a senhora em paz". - Admirada com essa resposta, ela desvendou diante de mim toda a sua alma.
Tratava-se de uma professora que, na hora de prestar os exames, fez a Deus a promessa de que, se esses exames lhe corressem bem, ela se dedicaria ao serviço de Deus, ou seja, ingressaria num convento. Porém, não obstante os exames terem ocorrido favoravelmente - "agora deixei-me envolver no turbilhão do mundo e não quero entrar no convento, mas a minha consciência não me deixa em paz e, apesar das diversões, sinto-me sempre insatisfeita".
Depois de uma longa conversa, essa pessoa mudou completamente e disse que logo tomaria as providências para ser aceita numa ordem religiosa. Pediu as minhas orações, e senti que Deus não lhe faltaria com Sua graça.
397 Cheguei a Varsóvia de manhã, e às oito horas da noite já estava em casa. Que alegria para os pais e para toda a família! É difícil descrevê-la. (167) Minha mãe tinha melhorado um pouco, mas o médico não dava nenhuma esperança de cura total. Após os cumprimentos, logo caímos todos de joelhos para agradecer a Deus pela graça de ter sido possível nos reunirmos todos, mais uma vez na vida.
398 Quando observei como o meu pai rezava, fiquei muito envergonhada, porque eu, após tantos anos de vida religiosa, não sabia rezar com tanta sinceridade e fervor, e por isso, incessantemente, agradeço a Deus pelos pais que me deu.
399 Oh, como tudo mudou durante esses dez anos. É difícil de reconhecer. O jardim, que era tão pequeno, agora está irreconhecível; meus irmãos e irmãs, que eram ainda tão pequenos, agora não posso reconhecê-los; todos cresceram, e eu me admirei por não os encontrar como os havia deixado.
400 Stasio[216] me acompanhava todos os dias até a igreja. Eu sentia quanto essa pequena alma era agradável a Deus. No último dia, quando já não havia ninguém na igreja, fui com ele diante do Santíssimo Sacramento e rezamos juntos o "Te Deum". Após um momento de silêncio, ofereci essa almazinha ao dulcíssimo Coração de Jesus. Como eu era capaz de rezar bem nessa pequena igreja! Lembrei-me de todas as graças que tinha recebido nesse lugar e que então eu não compreendia e das quais, tantas vezes, abusava, e espantava-me como podia ter sido tão cega. Quando eu refletia assim e lamentava a minha cegueira, vi Nosso Senhor brilhando numa beleza indizível - e Ele me disse bondosamente: Minha eleita, Eu te concederei graças ainda maiores, para que possas ser por toda a eternidade testemunha da Minha misericórdia.
401 Eu passei esses dias em casa em grande companhia, porque todos queriam encontrar-se comigo e trocar ao menos algumas palavras. Algumas vezes, eu contava até 25 pessoas. Estavam interessados nas minhas narrações das vidas dos santos. Parecia-me que nossa casa era verdadeiramente uma casa de Deus, porque todas as noites falava-se apenas de Deus. Quando estava cansada de falar e desejosa de solidão e do silêncio, eu saía sem ser notada, à noite, para o pomar, a fim de conversar a sós com Deus. Assim mesmo não conseguia fazê-lo, porque logo vinham meus irmãos e irmãs, levavam-me para dentro e novamente era obrigada a falar, com tantos olhares fixos (168) em mim. Mas eu conseguia uma maneira, uma forma de descanso: pedia a meus irmãos que cantassem alguma coisa para mim, pois tinham lindas vozes e, além disso, um deles tocava violino e outro, bandolim. Assim, durante esse tempo, podia entregar-ma à oração interior, sem evitar a companhia deles.
Custava-me muito, ainda, beijar as crianças. As mulheres, minhas conhecidas, vinham com seus filhos e pediam que eu os tomasse, ao menos por um instante, nos meus braços e os beijasse. Viam nisso uma grande graça, e para mim isso era uma oportunidade para me exercitar na virtude, porque muitas estavam bastante sujas; mas, para me superar e não demonstrar repulsa, aquela criança suja eu beijava duas vezes. Uma conhecida trouxe sua criança doente dos olhos, que estavam remelentos, dizendo: "Irmã, pegue-a só por um momento nos seus braços". - A natureza sentia repulsa, mas, sem me importar com nada, peguei a criança nos meus braços e beijei duas vezes nos olhos purulentos, pedindo a Deus que ela melhorasse.
Tinha muitas oportunidades para me exercitar na virtude. Eu ouvia as queixas de todos e percebi que não havia sequer um único coração alegre, porque não havia um só que amasse sinceramente a Deus, e em absoluto não me admirava da situação deles. Fiquei imensamente preocupada por não poder encontra-me com duas das minhas irmãs. Senti, interiormente, o grande perigo em que se encontravam suas almas. A dor me apertou o coração só de pensar nelas. Quando uma vez eu me sentia muito próxima de Deus, pedi com fervor ao Senhor a graça para elas - e respondeu-me o Senhor: Concedo-lhes não apenas as graças necessárias, mas também graças especiais. - Compreendi que o Senhor as chamaria para uma união mais estreita com Ele. Alegro-me imensamente porque um amor tão grande reina em nossa família.
402 Quando me despedi dos meus pais e lhes pedi a bênção, senti a força da graça de Deus que desceu na minha alma. Meu pai, minha mãe e minha madrinha me abençoaram entre lágrimas e, desejando-me a maior fidelidade à graça de Deus, pediam que nunca me esquecesse dos muitos dons que Deus me havia concedido, chamando-me para a vida religiosa. Pediam as minhas orações. (169) Apesar de todos chorarem, eu não derramei uma lágrima sequer. Procurava ser corajosa e consolava-os a todos como podia, lembrando-lhes o céu, dizendo que lá já não haverá separação. Stasio levou-me até o ônibus. Eu lhe dizia quanto Deus ama as almas puras, garantia-lhe que Deus estava satisfeito com ele. Quando lhe falei da bondade de Deus e de como Ele pensa em nós, começou a chorar como uma criançinha, e eu não me admirava, porque é uma almazinha pura que, portanto, facilmente conhece a Deus.
403 Quando me sentei no carro, dei largas ao coração e igualmente comecei a chorar de alegria como uma criança, por Deus conceder tantas graças à nossa família, e mergulhei numa oração de ação de graças.
404 À noite, já me encontrava em Varsóvia. Primeiro cumprimentei o Senhor da casa[217] e, depois, toda a comunidade.
Antes de ir descansar, fui fazer uma visita ao Senhor para Lhe dar boa noite e pedir perdão por ter conversado com Ele tão pouco durante minha estada em casa. Então, ouvi uma voz na alma: Estou muito satisfeito por não teres falado Comigo, mas por teres dado a conhecer às almas a Minha bondade e por teres despertado nelas o amor para Comigo.