Oração Ave Maria

Aparições do Anjo em 1916

Primeira Aparição sobre o Olival

Passado algum tempo, voltaram com os rebanhos para esse mesmo sítio e repetiu-se o mesmo, da mesma forma. As companheiras contaram, de novo, o acontecido. E o mesmo, passado outro espaço de tempo. Era a terceira vez que a mãe de Lúcia ouvia falar, por fora, destes acontecimentos, sem ela ter dito palavra em casa.

Chama-a, então, já pouco contente, e lhe pergunta:

– Vamos a ver: o que é que vocês dizem que vêem para aí?!

– Não sei, minha mãe. Não sei o que é.

Várias pessoas começaram por fazer graça. E como Lúcia, desde a primeira comunhão, ficava por algum tempo como que abstracta, recordando o que se tinha passado, as irmãs, com algo de desprezo, perguntavam-lhe:

– Estás a ver algum embrulhado no lençol?

Estes gestos e palavras de desdém eram-lhe muito sensíveis, pois não estava habituada senão a carinhos. "Mas isto não era nada. É que eu não sabia o que o bom Deus me tinha reservado para o futuro." conta Lúcia.

Por este tempo, o Francisco e a Jacinta pediram e obtiveram, licença dos pais, para começarem a guardar o seu rebanho. Deixou, pois, estas boas companheiras e substituí-as por seus primos: o Francisco e a Jacinta. Combinaram, então, pastorear os rebanhos nas propriedades dos tios e dos pais de Lúcia, para não se juntarem na serra com os demais pastores.

Um belo dia, foram com as ovelhinhas para uma propriedade dos pais de Lúcia que fica ao fundo do dito monte voltado ao nascente. Chama-se essa propriedade Chousa Velha. Aí pelo meio da manhã, começou a cair uma chuva miudinha, pouco mais que orvalho. Subiram a encosta do monte, seguidos das ovelhinhas, em procura de um rochedo que servisse de abrigo. Foi então que pela primeira vez entraram nessa caverna abençoada. Fica em meio dum olival pertencente ao padrinho Anastácio. Desde ali, avista-se a pequena aldeia onde nasceu, a casa de seus pais, os lugares da Casa Velha e Eira da Pedra. O olival, pertencente a vários donos, continua até (se) confundir com estes pequenos lugares. Aí passamos o dia, apesar da chuva haver passado e de o sol se haver descoberto lindo e claro. Comemos a merenda, rezamos o Terço e não sei se não seria um daqueles que costumávamos, com o afã de brincar, passar as contas dizendo só a palavra Ave-Maria e Padre-Nosso! Terminada a nossa reza, começaram a jogar as pedrinhas.

Alguns momentos havia que jogavam, e eis que um vento forte sacode as árvores e os faz levantar a vista para ver o que (se) passava, pois o dia estava sereno. Viram, então, que sobre o olival se encaminha para eles a tal figura de que já falou. A Jacinta e o Francisco ainda nunca a tinham visto, nem Ihes havia falado nela. À maneira que se aproximava, íam divisando as feições: um jovem dos seus 14 a 15 anos, mais branco que se fora de neve, que o sol tornava transparente como se fora de cristal e duma grande beleza. Ao chegar junto de deles, disse:

– Não temais! Sou o Anjo da Paz. Orai comigo.

E ajoelhando em terra, curvou a fronte até ao chão e os fez repetir três vezes estas palavras:

– Meu Deus! Eu creio, adoro, espero e amo-Vos. Peço-Vos perdão para os que não crêem, não adoram, não esperam e Vos não amam.

Depois, erguendo-se, disse:

– Orai assim. Os Corações de Jesus e Maria estão atentos à voz das vossas súplicas.

As suas palavras gravaram-se de tal forma na mente, que jamais se esqueceram. E, desde aí, passaram largo tempo assim prostrados repetindo-as, às vezes, até cair cansados. Lúcia recomendou logo que era preciso guardar segredo e, desta vez, graças a Deus, fizeram-lhe a vontade.

Segunda Aparição do Anjo

Passado bastante tempo, em um dia de verão, em que havíam ido passar a sesta a casa, brincavam em cima dum poço que tinham os pais de Lúcia no quintal a que chamavam o Arneiro. De repente, viram junto deles a mesma figura ou Anjo e diz:

– Que fazeis? Orai, orai muito. Os Corações Santíssimos de Jesus e Maria têm sobre vós desígnios de misericórdia. Oferecei constantemente, ao Altíssimo, orações e sacrifícios.

– Como nos havemos de sacrificar? – perguntou Lúcia.

– De tudo que puderdes, oferecei a Deus sacrifício em acto de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido e súplica pela conversão dos pecadores. Atraí assim, sobre a vossa Pátria, a paz. Eu sou o Anjo da sua guarda, o Anjo de Portugal. Sobretudo, aceitai e suportai, com submissão, o sofrimento que o Senhor vos enviar.

Terceira Aparição do Anjo

Passou-se bastante tempo e foram pastorear os rebanhos para uma propriedade dos pais que fica na encosta do já mencionado monte, um pouco mais acima dos Valinhos. É um olival a que chamavam Prégueira. Depois de terem merendado, combinaram ir rezar na gruta que ficava a outro lado do monte. Deram, para isso, uma volta pela encosta e tiveram que subir uns rochedos que ficam ao cimo da Prégueira. As ovelhas conseguiram passar com muita dificuldade.

Logo que aí chegaram, de joelhos, com os rostos em terra, começaram a repetir a oração do Anjo: Meu Deus! Eu creio, adoro, espero e amo-Vos, etc. Não sabendo quantas vezes tinham repetido esta oração, quando viram que sobre eles brilha uma luz desconhecida. Ergueram-se para ver o que se passava e viram o Anjo, tendo em a mão esquerda um Cálix, sobre o qual está suspensa uma Hóstia, da qual caem algumas gotas de Sangue dentro do Cálix. O Anjo deixa suspenso no ar o Cálix, ajoelha junto de deles, e os faz repetir três vezes:

– Santíssima Trindade, Padre, Filho, Espírito Santo, (adoro-Vos profundamente e) ofereço-Vos o preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo, presente em todos os Sacrários da terra, em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que Ele mesmo é ofendido. E pelos méritos infinitos do Seu Santíssimo Coração e do Coração Imaculado de Maria, peço-Vos a conversão dos pobres pecadores.

Depois levanta-se, toma em suas mãos o Cálix e a Hóstia. Dá, a Lúcia, a Sagrada Hóstia e o Sangue do Cálix divide-O pela Jacinta e o Francisco, dizendo ao mesmo tempo:

– Tomai e bebei o Corpo e Sangue de Jesus Cristo, horrivelmente ultrajado pelos homens ingratos. Reparai os seus crimes e consolai o vosso Deus.

E prostrando-se de novo em terra, repetiu com eles outras três vezes a mesma oração: Santíssima Trindade... etc., e desapareceu. Os pastorinhos permaneceram na mesma atitude, repetindo sempre as mesmas palavras; e quando se ergueram, viram que era noite e, por isso, horas de irem para casa.

Referência

Livro Memórias de Irmã Lúcia: A pastorinha de Nossa Senhora de Fátima. Editora Fátima: Fundação Francisco e Jacinta Marto, 2019.