Os pastorinhos foram levados para Vila Nova de Ourém para interrogatório e permaneceram lá sem poder sair (em breve detalharei este acontecido).
Ao que Lúcia se recorda, a aparição foi no dia 15, ao cair da tarde. Como ainda então não sabia contar os dias do mês, pode ser que esteja enganada; mas conserva a ideia que foi no mesmo dia em que chegaram de Vila Nova de Ourém.
Andando com as ovelhas, na companhia de Francisco e seu irmão João, num lugar chamado Valinhos, e sentindo que alguma coisa de sobrenatural se aproximava e os envolvia, suspeitando que Nossa Senhora os viesse a aparecer e tendo pena que a Jacinta ficasse sem A ver, pediram a seu irmão João que a fosse a chamar. Como ele não queria ir, Lúcia ofereceu-lhe, para isso, dois vinténs e lá foi a correr.
Entretanto, viu, com o Francisco, o reflexo da luz a que chamavam relâmpago; e chegada a Jacinta, um instante depois, viram Nossa Senhora sobre uma carrasqueira.
– Que é que Vossemecê me quer?
– Quero que continueis a ir à Cova de Iria no dia 13, que continueis a rezar o terço todos os dias. No último mês, farei o milagre, para que todos acreditem.
– Que é que Vossemecê quer que se faça ao dinheiro que o povo deixa na Cova de Iria?
– Façam dois andores: um, leva-o tu com a Jacinta e mais duas meninas vestidas de branco; o outro, que o leve o Francisco com mais três meninos. O dinheiro dos andores é para a festa de Nossa Senhora do Rosário e o que sobrar é para a ajuda duma capela que hão-de mandar fazer.
– Queria pedir-Lhe a cura dalguns doentes.
– Sim; alguns curarei durante o ano.
E tomando um aspecto mais triste:
– Rezai, rezai muito e fazei sacrifícios por os pecadores, que vão muitas almas para o inferno por não haver quem se sacrifique e peça por elas.
E, como de costume, começou a elevar-se em direcção ao nascente.